Um texto sobre o nada

Este texto foi escrito por mim em abril de 2019, para uma disciplina da faculdade.


    Em uma das infinitas dimensões possíveis havia um universo. Nele havia uma porção de espaço sideral ligeiramente conhecida, onde havia uma galáxia. Para fins astrofísicos essa galáxia era dividida em braços.     Em um dos braços (um bem periférico) havia um sistema que orbitava uma estrela considerada pequena. E era assim que eu teria começado este texto se eu tivesse inspiração suficiente para continuar escrevendo a partir daí. Mas não tenho. Então escrevo este texto sobre o nada, diretamente de um apartamento de 60 metros quadrados ou menos, localizado num bairro de classe média na cidade de João Pessoa. Todas essas informações significam o mesmo que nada para os outros planetas que orbitam o mesmo sistema que eu, no mesmo braço da mesma galáxia da mesma porção mapeada de espaço sideral que eu.
    É difícil escrever um texto sobre o nada. Eu não sabia disso antes de tentar. O problema é porque dentro do nada cabe qualquer coisa - inclusive tudo.
    Sei lá, eu já tive um blog. Tenho um amigo que vive me pedindo para voltar a escrever. Ele era um dos meus únicos dois leitores, contando com a minha mãe. Ele diz que se eu escrevesse mais iria me entender melhor. Mas não consigo mais escrever como escrevia antes, acho muita exposição. Só sei escrever quando sou obrigada. Aí um professor me obrigou. Ele me obrigou a escrever um texto sobre qualquer coisa (inclusive nada).
    Eu poderia então falar sobre as chuvas de abril, ou aquela música bonita, ou sobre o xeroderma pigmentoso, que é uma doença genética bastante rara que vai cair na prova de amanhã. Eu poderia até mesmo falar sobre o meu ex-namorado, que me bloqueou das redes sociais e que agora eu não sei se está bem - mas acho que está, sim. Notícia ruim chega rápido.
    Isso tudo é muito difícil. Escrever sobre o nada, eu quero dizer.
    Às vezes eu fico até pensando na eternidade do tempo. E no quanto o xeroderma pigmentoso é pequeno diante dela. Na verdade eu não fico pensando sobre essa segunda parte, só fui pensar agora que escrevi.
    Acho que agora é um momento conveniente para dizer que nossa existência é insignificante diante da imensidão do espaço e da finitude da vida.
    Há quem torça o nariz quando lê isso. Mas eu acho bom. Não há nada mais precioso que a nossa fragilidade. Morrer é fisiológico. Talvez essa seja a grande resposta do universo. Ninguém conhece qual é a pergunta do universo, pra falar a verdade. Qualquer resposta tá certa quando a gente não conhece a pergunta. Até mesmo o nada. Até mesmo se esse nada for escrito num texto mal pontuado e que só podia ter até 30 linhas, mas que eu nem tô contando mais.
    Até mesmo quando o nada significa qualquer coisa - inclusive tudo.

Gosto muito de escrever e venho tentando retomar a prática. Uma coisa que me deixa um pouco inibida é que tenho a impressão de que todo texto meu é igual, hahahaha. Vejo meu estilo sendo muito repetitivo. Talvez isso seja bom, sei lá, mas me incomoda um pouco.

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