Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2013

Suicídio

Saiu como um trovão a última frase do livro. Pele pálida, suor descendo a linha do nariz, contornando a boca. Ah, a boca. Pinga no papel. "Mais um", foi o que pensou no momento. Na penumbra do quarto quente e vazio, a silhueta cravada de ossos. Magra como a noite escura, bordada de cicatrizes que o vento encarregou-se de trazer como se fossem estrelas. Mais uma gota de suor brota no topo da testa, ainda em meio aos fios ralos do cabelo, que insiste em cair. Acaricia a penugem da sobrancelha, irrita as pálpebras, pinga do olho, quase uma lágrima. Termina o caminho levemente como se não houvesse culpa nas entranhas do sal que carregava. Não há necessidade de limpar. "Mais um". Usava para escrever uma máquina como quem quer esconder a cena do crime. Recusava-se a encostar no papel - palavras cortam. Palavras sujas cortam. E cortavam-na por dentro e amarravam suas vísceras. Palavras são doenças incuráveis. A mão descascada tremia e fazia tilintar os ossos de vidro