Postagens

Mostrando postagens de julho, 2020

Um texto sobre o nada

Este texto foi escrito por mim em abril de 2019, para uma disciplina da faculdade.      Em uma das infinitas dimensões possíveis havia um universo. Nele havia uma porção de espaço sideral ligeiramente conhecida, onde havia uma galáxia. Para fins astrofísicos essa galáxia era dividida em braços.      Em um dos braços (um bem periférico) havia um sistema que orbitava uma estrela considerada pequena. E era assim que eu teria começado este texto se eu tivesse inspiração suficiente para continuar escrevendo a partir daí. Mas não tenho. Então escrevo este texto sobre o nada, diretamente de um apartamento de 60 metros quadrados ou menos, localizado num bairro de classe média na cidade de João Pessoa. Todas essas informações significam o mesmo que nada para os outros planetas que orbitam o mesmo sistema que eu, no mesmo braço da mesma galáxia da mesma porção mapeada de espaço sideral que eu.      É difícil escrever um texto sobre o nada. Eu não sabia disso antes de tentar. O problema é porque

Jefferson, o sôfrego escritor meia-boca de um conto só

     Fazia um inverno infernal neste inferno de cidade. Não sabia nem o que fazia ali, mas continuava ficando, e ia ficando e maldizendo e refletindo que o inferno não é quente, mas este frio fino, malcheiroso, apertado e encolerizante que fazia agora. Tinha também algumas outras certezas que não interessam a este texto. Este é um texto sobre outra coisa.      Pediram-no que escrevesse um romance, daqueles longos, complexos, comerciais-mas-nem-tanto. Não conseguia. Já tentara a máquina, o computador, o papel, meditação guiada e trocar as meias furadas e incensos e chás e tudo o mais. Nada aliviava o frio. Saiu para comprar cigarros, mas nem fumante era.     O vendedor era um cara miúdo, gorducho-mas-não-muito, mal encarado. Tinha o nariz torto para o lado esquerdo, sem nenhuma cicatriz, isso dava raiva. Nariz torto tinha que ter história. Nariz torto sem cicatriz era um cachorro que caiu da mudança, um erro, um desperdício de poeira espacial, um sei-la-o-quê.      Achou os cigarros car