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Mostrando postagens de janeiro, 2011

Alzira Silva

Levantou-se e manteve-se ereta e em posição estratégica enquanto olhava em volta. Como um soldado a analisar seu campo de batalha. (E que batalha!) Podia ver vestígios da luta da noite passada em todos os lugares. Aliás, que lugar era aquele? Diferente. Não era como o Motel 4Estações, onde na cama, os corpos, embalados pelo calor das noites daquele janeiro, cediam espaço aos ratos. Era bonito. Havia uma bandeja no criado-mudo esquerdo. O lado em que ela dormia. Isso quando dormia. Porque ficava acordada todas as noites esperando o Sol se levantar e dar-lhe um beijo. Na bandeja haviam duas maçãs, alguns biscoitos e um copo com suco de laranja. "Geladinho", pensou. Questionou a si mesma que lugar seria aquele. Pôde ver refletida no banheiro uma toalha com o emblema do que ela julgara ser o lugar onde estava. Hilton. Havia dado sorte, então. Pensou no quanto sua conta bancária aumentaria. Pensou em João Mário, que já estava reclamando do ensopado que era posto na mesa todos o

Palavras ocultas

Havia esperado por aquele momento. Não um dia, ou uma semana. Mas havia esperado por aquele momento a vida inteira, como as andorinhas esperam pelo verão. Havia passado e repassado o mesmo filme incontáveis vezes na mente, e já tinha certeza do que falaria. Certeza que, agora ela percebia, sumia como água que desce pelo ralo: rápida, sem fazer barulho ou deixar marcas. Mas ela não se importava. Aliás, talvez esse defeito seja o motivo para ter demorado tanto para o filme se tornar realidade: ela não se importava com as coisas. Em seu âmago, ela de certo se importava. Sua alma chorava ao ver a alma de outros chorarem - especialmente a dele. Mas era difícil perceber tais fatos. A menina não deixava transparecer. Seus olhos... Talvez eles fossem rios sem água, esperando por uma gota de chuva no deserto do Saara. Mas não naquele momento. Naquele momento, a menina já não era a mesma. Seria a chuva derretendo sua armadura de açúcar? O cabelo e as roupas. Ambos completamente molhados. E

Chuva e céu azul

E então ele olhou sua face pálida, antes cheia de cor. Abraçou-a como se não houvesse mundo ao redor deles, quando na verdade havia: e um mundo lindo, aliás. Estavam no lugar de sempre. O lugar do início, o lugar do durante, e o lugar do fim. E que fim! Estavam na praia. Lembrou-se do que ela dissera dias antes, quando estavam, só os dois, como de costume, na mesma posição e no mesmo lugar: "Eu queria ser livre como as gaivotas". Uma lágrima beijava sua face e seu sal carregava a dor do que estava acontecendo. Colocou o ouvido próximo ao coração dela, mas não ouviu sua música. Não pôde escutar o seu cantar. Doce melodia que, dias antes, embalara a história dos dois. E que história! Cheia de intrigas, doce como o açúcar dos olhos dela e amarga como o limão dos olhos dele. Intensa, como o vermelho. O vermelho, cor da paixão duradoura, cor do vestido dela que ele mais gostava. Vestido que ela usava naquele momento. Seria para intensificar a dor dele? Óh, Deus, o quanto ele d

Carol cara de Sol.

Eu gosto do Sol. Gosto do jeito como ele faz as coisas ficarem mais alegres. Gosto da cor. Amarelo. Laranja. Arco-íris. Eu gosto do Mar, também. Gosto da Lua. Gosto como os dois parecem ficar olhando um para o outro, como um casal de namorado que estão a amar-se. Gosto do Céu. Gosto do jeito como ele é tão... presente. Azulão (“voa, Azulão!”). Gosto das flores. Gosto das formas que elas possuem, os cheiros, as cores, a beleza. Gosto das estrelas, das nuvens, das folhas das árvores que vão caindo no outono, do cheiro de capim fresquinho pela manhã. Gosto de ver trigo no campo, de comer algodão-doce. Gosto de abraçar. Gosto muito das pessoas, também. Aliás, talvez este seja um dos meus defeitos: gostar demais. Uma das poucas coisas que eu não gosto, é a chuva. Não adoro, não gosto de ver o dia triste. Não gosto quando o Sol chora. Porque eu gosto do Sol e não gosto quando alguma coisa que eu gosto chora. Porque sorrir é melhor do que chorar. Eu gosto de sorrir. Enfim. Um dia chuvo