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Mostrando postagens de julho, 2012

O pouco que ficou do que teve de partir

Pode entrar e deixar a carteira na mesa. Pode abrir a geladeira e fazer uma cópia da chave pra você. Pode chegar à hora que quiser e não precisa bater antes de entrar. Aliás, não precisa nem ir embora, pode ficar por aí. Pode trocar os canais da TV, pode escolher o filme no cinema e não precisa pagar a conta no final. Eu pago, viu? Pode entrar no quarto e mudar as roupas de lugar, pode mexer nos meus papeis e bagunçar os documentos. Pode trocar a temperatura do chuveiro e usar minha escova. Eu deixo. Na verdade, te peço. Suplico. Fica do meu lado quando chover. Fica aqui quando o chão sujar, quando o domingo for longo e a programação da televisão horrível. Não sai daqui nem se lhe gritarem lá fora, fica aqui comigo e me lembra de quando você chegou, me explica porque foi embora e não me deixa dormir sem te contar porque te pedi pra voltar. Me ensina outra vez pra qual time a gente tem que torcer e porque o gol foi impedido. Escuta de novo as minhas perguntas bobas e olha: eu já sei

O adeus que eu nunca dei

Fechei a mala pela décima vez. Sou péssima em terminar as coisas, que fique claro de primeira. Não consigo terminar nenhum poema, tremo ao terminar relacionamentos e é por isso que terminar de arrumar a mala é sempre um serviço árduo. Talvez me seja complicado não só pelo trabalho em si: rolar um zíper pelo pano desbotado não exige tanta força. Acho que fechar malas é difícil por causa do que está por trás - a despedida. E, meu caro, se existe uma coisa impossível ao ser humano, devo apontar que despedidas são impossíveis a mim. Olhei no relógio. Os dias ficam mais corridos quando a mente não para no lugar. Acho que o grande problema da humanidade está dentro daquilo que não é dito.  Amaldiçoadas sejam as palavras que não saem. Arrependi-me de todas as frases que montei na mente e que não fui forte o suficiente para colocar pra fora. Arrependi-me mil vezes de ter ouvido a música e não ter cantado junto. Você ficou parado ao pé da escada enquanto eu rolava minha mala pelo