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A insustentável leveza do ser

"Desde sua mocidade, não fazia outra coisa senão falar, escrever, dar cursos, inventar frases, procurar fórmulas, corrigi-las, de maneira que as palavras nada mais tinham de exato, o sentido delas se apagava, perdiam seu conteúdo sobrando apenas migalhas, partículas, poeira, areia, que flutuava no seu cérebro dando-lhe enxaqueca, e que era sua insônia, sua doença. Teve então a vontade confusa e irresistível de uma música enorme, de um barulho absoluto, que englobaria, inundaria, esmagaria todas as coisas, que anularia para sempre a dor, a vaidade, a mesquinharia das palavras. A música era a negação das frases, a música era a antipalavra." A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

Alô, Marisa!

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" Eu aprendi com a primavera a ser cortada e voltar sempre inteira " Cecília, sempre linda. Ô, moço! Deixa eu, moço! Deixa eu meio aos avessos, meio assim, meio assado. No meu mundo, do meu jeito, com meu gosto! Deixa eu, moço! Que faço não porque quero, mas porque sou! E sou o que a vista alcança, o nariz cheira, a mão encosta. Sou até o que não foi escrito, sou o verso que não saiu, a rima que não deu certo, o fogo que não pegou! Então deixa eu, viu, moço?! Que sou breve ao olhar de quem não vê e sou sempre demorada, arrastada, meio trôpega, pra quem quer enxergar. E não venha com ideologias, moço, nem você, minha senhora, que não sou para analisar. Não quero filosofias, nem explicação, nem nada que siga um curso de lógica! A existência está contida no indefinível, em tudo o que o amar tem de inimaginável! Então vem, viu?! Ou me aceita, ou me deixa, moço, que isso aqui é uma explosão! E sou esse constante não estar estando, o não fazer fazendo, tudo o que o se...

Fumaça e cheiro de mato.

Abriu a boca por um instante e balbuciou alguma coisa. Nenhum som foi ouvido, entretanto. Só o ruído do vento dançando pelo ar e enchendo todos os espaços que se fizeram vazios por tanto tempo. Na mão esquerda, seringa e soro. Na direita, fotografias que a lembrança fizera questão de esconder. E tudo o que não ficou, e tudo o que não sobrou, voltava neste instante. Endurecera-se com o concreto, adoecera com as horas no relógio. Inclinou a cabeça e olhou para o céu. Engraçado como o passado é bonito e grita alto! Uivou furtivamente mais uma vez o vento frio. E então veio a neblina. Inclinou a cabeça e, em um sorriso, desapareceu. O que se fizera fosco, curioso, agora era brilho. Adormeceu. ("Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo", como já diria Drummond.)

Let's have the time of our lives!

     Querer é não se esvair de tentar.      Perdoar é não se findar de amar.      E amar, amar mesmo, é um incansável agradecer.      Pedir é o caminho que cega o agradecer, é o que cobre o realizar.      Pedir é o problema - o grande e abominável problema do mundo todo.      Solucionando, então. Obrigada. De verdade. Por terem feito dar certo, mesmo que indiretamente. Por ter sido bom, mesmo que completamente diferente. Por tudo e por nada - é sempre bom usar antítese.      E sabe qual é a mágica? O Sol nasce todo o dia. Brota do horizonte e logo após um beijo dá n'outra ponta para que tudo possa descansar - e acordar de novo. E se fazer o novo. Re-criar, re-estar.      É sempre vida nova e ela se faz todo dia.      Por que não realizar?, s e estamos todos aqui, se somos todos agora?      Obrigada, mais uma vez. Valeu a pena. Cad...

É chegada a vida nova.

Olhe-se no espelho. Vai. Anda. Para tudo e olha. Gostou do que viu? Lembre-se de tudo o que já passou. Vai logo! Pensa. Gostou do que lembrou? E quantas vezes você sorriu? Elas superam as vezes que chorou? E quantas vezes caiu? Levantou-se em seguida? Ainda está caído? Como vai a família? Tem ligado pra eles? E os amigos? Ainda estão lá? Você ainda está lá para eles? Ainda os empresta os ombros? Ainda tem ombros a quais recorrer quando a saudade aperta? E o cheiro do verão? Ainda se lembra dele? Vai, tira esse relógio do pulso. Esquece que dia é hoje. Números, apenas. Esquece seu cartão, tira da memória a placa do seu carro. E aí? Gostou? Está mais leve? Qual sua cor favorita? Qual é o sorvete que você mais gosta? Quando foi a última vez que abraçou alguém? Abre o armário. Mas abre rápido! Antes que seja tarde. Joga isso tudo no chão. Quem é você agora? Qual a última doação que fez? Ajuda que prestou. Quando foi? Você já ...

Azul.

Provavelmente já escrevi sobre isso. Muitas vezes. E se nunca registrei em palavras, de certo já marquei no vento o que estou prestes a contar. É que há muito tempo, não sei quanto - é tempo suficiente para o tempo não ser o mais importante na história -, meu pai se sentou comigo pela janela. Pelo o que diz a história e minhas fitas de vídeo antigas, isso acontecia muito. Todos os dias após o almoço, mais precisamente. Gostaria de me recordar de todas estas ocasiões. Mas não consigo. Lembro-me, entretanto, de uma única vez, em especial. "Olha quem veio brincar com você, Carol!" Eu vejo os pássaros pela janela. O céu está do mais brilhante tom de azul. O cheiro é de verão. "Olha, Carol! Olha quem veio brincar com você!", a voz amiga repete. O que vem depois é um grande espaço vazio, negro. Não me lembro de mais nada. Mas não me magoo por isso. Ao contrário: aquela janela, a lembrança dela, deu-me muito mais do que um passarinho com quem brincar. Deu-me o infinito....
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A última coisa que busco fazer nessa vida é sentido. .