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Carolírico

Dia desses matei um cara. E ignorante que sou, liguei e denunciei anonimamente o meu eu-lírico. Minutos mais tarde estavam na porta daqui de casa. Você está presa em nome da lei. Estranho, não? Desde pequena havia acreditado que uma das vantagens de ser escritora (ou pelo menos aspirante a tal cargo), seria poder colocar a culpa no meu eu-lírico caso as coisas não saíssem como o planejado. O que de fato não seria tão incabível assim. Meu eu-lírico é permanentemente mutável: assume formas, cores, sabores, amores... Ele tem coragem de ser, estar e fazer tudo aquilo que o meu eu-eu não é capaz. Confuso, não? Pois é. O pessoal do júri também achou. Escrevo, logo existo. Foi esta a explicação que me deram e que agora reconheço ser suficiente. Talvez meu lirismo não esteja tão longe assim do que eu realmente sou. Aliás, hoje acredito que os dois são muito parecidos! Provavelmente são até a mesma coisa. O problema é que o crime fora cometido e o réu já está sendo julgado: transformei a...

Paixão

Meu bem, se eu fosse capaz de criar uma rima que te fizesse lembrar de mim, eu já teria realizado este feito há muito tempo. Se eu fosse capaz de escrever um texto que te fizesse me abraçar, já estaria aquecida em teus braços a séculos. Mas não sou mestre das palavras. Aliás, delas eu sou só mais um escravo. Cada verso que faço, cada linha que escrevo, perfura a ti e a mim também. E mesmo se fosse a melhor das melhores escritoras do mundo, se fosse a poetisa mais renomada, mesmo assim não seria capaz de expressar com palavras o que quero que você saiba. E mesmo que soubesse exatamente o que dizer e o que escrever, se soubesse perfeitamente tudo o que você quer ouvir e tudo o que é preciso dizer para te ganhar novamente, mesmo assim não daria certo. Porque as minhas palavras não penetram mais a tua cabeça. E mesmo que todas as minhas palavras e versos e cantigas perfurassem o teu crânio, de certo alguma coisa daria errado. Porque minhas atitudes estão gritando tão alto, mas tão ...

Bom dia, primavera!

"Ó última nuvem do temporal findo Navegas sozinha no céu todo lindo Tu jogas sozinha uma sombra sombria Sozinha entristeces o glorioso dia Há pouco encobrias todo o firmamento E raios lançavas do céu violento Fazias rugir misterioso trovão De chuva encharcavas o sequioso chão E basta! Já chega, passou a tua hora, Refrescou-se a terra, a borrasca foi embora, E a brisa suave já beija a folhagem E o vento te enxota - vai, segue viagem!" (A Última Nuvem - Liêrmontov) Teu amor foi como uma doce chuva de verão - só que no meio do inverno! Teu amor chegou, calminho, afofando a terra. Molhou as flores, alimentou as árvores, limpou minha alma. Teu amor ficou, inundou as ruas, afogou as pessoas, destruiu as plantas. Teu amor aumentou, expulsou de mim todas as minhas borboletas e passarinhos. Tirou de mim até mesmo o meu mais fiel escudeiro! Chegou sem avisar, me alegrou de montão. Mas se transformou numa enorme tempestade e engoliu tudo. Tudo? Casa, carro, esperança,...

E agora, José?

(Valeu, Drummond!) Neste momento, há 6.875.870.198 pessoas na Terra. Milhares delas estão felizes agora. Planejando o casamento, se arrumando para a formatura, no cinema com os amigos. Muitas estão dando gargalhadas neste exato segundo. Celebrando o aniversário, começando um namoro. Fazendo brigadeiro na casa da melhor amiga. Outras, estão acabando de acordar. Com aquela ressaca e muitas lembranças engraçadíssimas de ontem a noite. Dentre estas, algumas já estão até com o telefone no ouvido esperando o gatinho que elas conheceram atender. Boa parte deste número está trabalhando. Viajando. Contando as horas para chegar em casa e ver que o filho mais novo aprendeu a andar. Que aquela calça serviu na esposa. Mas devo lhes confessar uma coisa: a grande maioria chora. Lastima-se pela perda da avó, a nota baixa na prova de Geometria. A grande maioria está em prantos neste exato momento, com saudade do amigo que mudou de cidade, chateada com o ex-namorado chato que faz de tudo par...

Querido Romeu,

Desculpa. Esqueci de acrescentar um detalhe na última carta: lembra-se de quando eu lhe disse para cuidar bem do meu coração? Então. Agradeço por ter realizado esta tarefa tão bem durante muito tempo, mas se você não se importar, gostaria muito de pegá-lo de novo. Encontrei um outro alguém bem mais merecedor dele do que você. Obrigada. Julietta .

Querido Romeu,

Quanto tempo não lhe escrevo, não? Como vai a vida? Há muito não tenho notícias de você. Pelo visto você está aprendendo a controlar suas mudanças de humor, não? Fico feliz por isso. Eu vou bem. Não que você se importe, claro. Estava lendo a cópia das últimas cartas que lhe enviei (todas elas sem resposta). Algumas apaixonadas, outras enfurecidas. Não me arrependo ou me envergonho de ter escrito nenhuma delas, acredite. Porque mesmo sendo isso que você é, me orgulho de já ter estado ao seu lado. Você me ajudou e me ensinou muitas coisas. É. Mas sinto lhe informar que esta provavelmente será a última carta com meu nome que você receberá. Talvez não lhe façam falta as minhas notícias, se fizessem você teria de certo me respondido. Mas enfim. Estou te libertando. (E dessa vez é sério.) Cansei de te roubar para a minha vida e te prender aos meus problemas. E cansei de ocupar a minha mente com teu sorriso quando, na verdade, você não merece que eu o faça. Desculpa. Nunca coloqu...

Segundo post do dia.

'Você sabe o que é o amor?' Me perguntaram uma vez. Bom, quando eu nasci, conheci uma moça que havia aguentado o meu peso durante nove meses sem reclamar, superou todas as dores do parto. E mesmo antes de ela saber se eu seria bonita, ou legal, ou qualquer coisa, ela já gostava de mim com todo o coração. E depois eu conheci um monte de pessoas incríveis, que me ajudavam na escola e saiam comigo nos finais de semana. Me abraçavam quando eu chorava e me ligavam quando eu ficava muito tempo sem dar sinal de vida. Cantavam "parabéns pra você" no meio da rua só para me fazer passar vergonha no dia do meu aniversário e riam comigo quando meu cabelo estava estranho. A eles eu dava o nome de 'amigos'. E depois de um tempo, eu conheci um menino. Ele não era o mais lindo e de longe o mais perfeito. Mas me fazia rir o tempo todo e quando eu estava com ele, me sentia leve. Era como se fosse só esticar um pouco o braço para tocar as estrelas. Ele me apertava quan...