Gosto.


De quem não tem hora marcada. De quem causou a bagunça. De quem não repara nela. De quem ajuda a arrumá-la. De brincar descalço. De horário de verão. E cheiro de livro velho. De cor.
De quem não entende e pergunta de novo. E de novo. Do que é novo. Do que é eterno. Do que nunca vai ser. De quem diz pra nunca dizer que nunca.
De quem não sabe cozinhar. De quem sabe. De quem conta histórias. De histórias. De música gostosa. De dia ensolarado e gosto de azul. De chuva, também.
Das pessoas que entram sem bater. Que não tiram o chinelo na porta e deitam no sofá e trocam o canal da TV. De quem liga sábado às 4 da tarde só pra ter certeza se. Vontade de. Como é que tá?
De viagem longa e abraço apertado e mapa do caminho e reencontro. De quem volta. De quem entende que tem que ir embora. - Já diria o poeta que amar é voltar, mas, amar mesmo, amar muito, é partir. O bolo de aniversário. As alegrias e as tristezas e o barbante que a gente guarda meio abarrotados na gaveta de colocar documento.
De cheiro de domingo. De sentar e escrever. E apagar. E escrever de novo. A carta que por pouco não foi embora - faltou o selo! (O selo que chegou e não foi usado - faltou a carta!)
De quem coloca ponto final em títulos. De quem não coloca ponto final nunca. De quem não pontua direito e não escreve direito e não termina as palavr. De quem faz isso tudo e não se preocupa em consertar. Porque você entendeu.
De quem entende. De quem lê livros e pessoas.
De colecionar e depois desistir. De pipoca com canela. De várias outras coisas com canela. E chocolate amargo.
De quem insiste. E tenta mais uma vez. De quem traz a bebida. E não aceita garrafa vazia. De quem ouve música e vozes dentro da cabeça.
De carinho e de reclamar da saudade e pedir pro momento voltar. De quem faz isso tudo. De quem faz isso junto.
De pessoas que se somam. De pessoas que se completam. De pessoas que não procuram significado pro que as une e de quem gosta de Caetano e de ver o Sol beijar o mar.
Do que cabe na mala. Do que não cabe. Das coisas que não dá pra levar. De pedidos de desculpa. De aceitação. Dos erros. E as lembranças deles. De álbum de fotografias antigas na casa da vó. De jantar às velas. De sentir medo de pular. De pular mesmo assim. De repetir fonemas e expressões sem parar. De quem não para.

De quem divide. As roupas e o espaço. De quem multiplica. As surpresas e as fotos engraçadas. De quem anula. O tal medo de pular.
De liberdade. E de olhar pra cima só pra dizer mais uma vez que o dia tá lindo e, vai, olha você também! Tá lindo de verdade.
A noite também é linda.
De quem aproveita a sexta-feira. De ideia maluca. E história pra contar.
De quem conta dinheiro. De quem não conta. De contas pra fazer.

De mim.
De quem me deixa gostar de. E querer fazer o. E imaginar se.
Porque é gostoso estar junto. Gostar junto. Entender que "junto" é ideológico e não necessariamente quer dizer "perto". Gostar longe, também. Gostar distante. Rezar para ficar pertinho. Ver filminho. Sorrir de ladinho. E terminar tudo em diminutivos que é pra ficar bonitinho. Porque a vida é um inho. E um ão de coração de amigão.
De não saber como terminar o texto e não se importar em fazê-lo... Porque você entendeu. Porque você também gosta de. E quer fazer o. E imagina se.

Gosto. Ponto.

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