Postagens

  Guardo este blog com um carinho especial pela pessoa que fui e pela pessoa em que me transformei, certa de que aqui estão gravados pequenos trechos de sentimentos sinceros que há muito me acompanham.

História curta.

A praia, os amigos, o calor. O vento, o abraço, a mensagem. O trânsito, o céu, aquela nuvem engraçada. A chegada, a piada, aquela cerveja meio quente, o carnaval que caiu em março naquele ano. Aquele abril demorado, as decisões, o jantar, a conquista. A festa, a música, aquele drink duvidoso, o ciúme. A entrega, o beijo, o beijo, o beijo, obeijo, o-b-e-i-j-o. O casaco, o vinho, a viagem, o sorriso, as pernas, o toque, o cheiro, o gosto, o medo, o desejo, mais beijo. O acaso, a mudança, a conversa, a dor. A despedida.

seria mais fácil te esquecer agora

 se eu tivesse mais coisa para lembrar. De novo, eu não escrevo poemas. Isto aqui é só uma graça verbal.

Eu não escrevo poemas pra você

Gostaria de poder dizer que desde que te conheci todos os poemas que escrevi foram pra você.  Mas não seria verdade, primeiro porque eu não escrevo poemas, isso é crucial, e segundo porque quando te conheci te achei muito esquisito. Mas a verdade é que hoje Se eu soubesse fazer poemas Faria, sim, Todos para você. Eu escreveria da sua risada e da minha, daquele dia à noitinha, que pra mim durou semanas, não sei quanto durou pra você. Como este não é um poema para você, não que não seja para você, mas sobretudo porque não é um poema, não vou dizer daquele cheiro que ficou na minha blusa e que eu até fiquei com dó de lavar, depois daquele dia que você foi embora. Não vou falar da conta no bar Que até hoje não sei em quanto ficou E eu nem liguei Porque os juros do cheque especial nem são tanto assim E mesmo que fossem Este não é um poema pra você. Como muitos outros não foram Não que não fossem pra você Porque eram, sim, todos pra você. Mas não eram poemas.

Um texto sobre o nada

Este texto foi escrito por mim em abril de 2019, para uma disciplina da faculdade.      Em uma das infinitas dimensões possíveis havia um universo. Nele havia uma porção de espaço sideral ligeiramente conhecida, onde havia uma galáxia. Para fins astrofísicos essa galáxia era dividida em braços.      Em um dos braços (um bem periférico) havia um sistema que orbitava uma estrela considerada pequena. E era assim que eu teria começado este texto se eu tivesse inspiração suficiente para continuar escrevendo a partir daí. Mas não tenho. Então escrevo este texto sobre o nada, diretamente de um apartamento de 60 metros quadrados ou menos, localizado num bairro de classe média na cidade de João Pessoa. Todas essas informações significam o mesmo que nada para os outros planetas que orbitam o mesmo sistema que eu, no mesmo braço da mesma galáxia da mesma porção mapeada de espaço sideral que eu.      É difícil escrever um texto sobre o nada. Eu não sabia disso antes de tentar. O problema é porque

Jefferson, o sôfrego escritor meia-boca de um conto só

     Fazia um inverno infernal neste inferno de cidade. Não sabia nem o que fazia ali, mas continuava ficando, e ia ficando e maldizendo e refletindo que o inferno não é quente, mas este frio fino, malcheiroso, apertado e encolerizante que fazia agora. Tinha também algumas outras certezas que não interessam a este texto. Este é um texto sobre outra coisa.      Pediram-no que escrevesse um romance, daqueles longos, complexos, comerciais-mas-nem-tanto. Não conseguia. Já tentara a máquina, o computador, o papel, meditação guiada e trocar as meias furadas e incensos e chás e tudo o mais. Nada aliviava o frio. Saiu para comprar cigarros, mas nem fumante era.     O vendedor era um cara miúdo, gorducho-mas-não-muito, mal encarado. Tinha o nariz torto para o lado esquerdo, sem nenhuma cicatriz, isso dava raiva. Nariz torto tinha que ter história. Nariz torto sem cicatriz era um cachorro que caiu da mudança, um erro, um desperdício de poeira espacial, um sei-la-o-quê.      Achou os cigarros car

Mais um dia seguinte

O textinho a seguir foi escrito em 2012, em conjunto com o  Daniel Bovolento, dono d o blog  Entre todas as coisas . Para acessar a postagem original no blog dele é só clicar  aqui . – Você deu três voltas no quarteirão e não bateu a porta. Você voltou de fininho e nem tirou a minha camisa amassada. Você deitou de novo e fingiu que nem tinha acordado… Por que você decidiu não ir embora? –  Fui comprar pão, hora nenhuma pensei em ir embora. E, a propósito, seu leite está vencido, já passou da data há um mês. Comprei mais. Se é que você se importa. Não gostei de ontem à noite. –  Não gostou de mim ou do jantar? Eu não compro leite com frequência. Tô há uns dias sem tempo pra fazer compras. Tá vendo os números pendurados na geladeira? São de delivery. Mas diz… De mim ou do jantar? – De tudo. Do lugar, da sua roupa, do seu cheiro. E sobre os números na geladeira, cansei deles também. Você anda muito distante. – Eu ando por aqui, ué… Tenho trabalhado muito, te mandei uma mensagem e te ligue

Pra não dizer que não falei do novo

O textinho a seguir foi escrito por mim em 2013 e foi publicado no blog Entre todas as coisas , do Daniel Bovolento, um escritor que admiro. Para acessar a postagem original no blog dele é só clicar aqui . –      Eu vi o que você fez ao final daquele livro… –      Que bom que leu. –      Vi o que tem feito a você mesma, também. Tentando se punir. Como se a culpa fosse sua. Como se houvesse culpa alguma… Ela o interrompe – Como se fosse de saudade. –      E é? Você não sente saudade. –      Não sentia. –      E por que haveria de sentir agora? –      Por causa da linha do queixo. Ele não entende. (Nunca entendia.) Ela percebe. (Sempre percebia.) –      A linha do seu queixo. Sua linha do queixo… E como você me tira da linha. E o encaixe da sua perna e a dobrinha do joelho e a cicatriz perto do umbigo como se fosse uma seta… Ele a interrompe – Você também se encaixava… –      Mas alguma coisa não. –      Deve ter sido o livro. –      O livro todo ou o final dele? –      O final veio depo